Saturday 3 July 2010

Fuga.

Segurava-me com a força, a virilidade e a destreza de quem ama. Bem verdade, ele não disse o meu nome, mas ele me envolvia de uma forma tão intensa e inebriante, torcia-se em torno de mim. Não me importei; Que trocasse os nomes, então, mas que não se fizesse silêncio. Não, queria ouví-lo. Queria-o enchendo o meu quarto, o meu vazio. Queria-o sussurrando repetidamente, queria que a voz ficasse mais audível, e que as palavras que ele me dizia, se tornassem verdade no meu universo cinza. Que ele continuasse a proferir a descrição do meu universo. Eis que, ali, ele era tudo o que eu podia sentir. Onde estou? O que sou? Não importa, cale-se, pare de pensar, mergulhe mais alguns segundos o mais fundo que puder nesse torpor, eu repetia dentro da minha mente, que obedecia sem esforço.
Então, senti-o afastar-se daquela massa disforme que eu havia me tornado. A alma dissipada na cama, suspirava ao som os últimos sons de gaita, dos últimos acordes de violão. A música acabou, Sara morria na melodia de Bob Dylan e eu tive que tirar os fones, alguém me chamava e eu tive que descer, esbaforida, as escadas para abrir o portão.

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