Thursday 3 September 2015

"não fosse isso, era menos"

desenho com a tinta invisível
dos meus dedos
o tom musical mais agudo
que o meu peito cantarola
quando são os teus olhares
do outro lado que recebo

a praça, seja ela qual for,
se estende por mais quilômetros e quilômetros
sempre que você dá os últimos passos para me alcançar
[o tempo e o espaço
deveriam se curvar
à urgência]

eu te repasso atrás das minhas pupilas
eu te revejo cena por cena
página
por
página
do teu corpo se deixando levar pelo meu
do teu eu tímido
se deixando levar pela maré
em dias agitados em que afogamentos
não ardem tanto quanto o peso de dias secos

eu de desbravo as iluminuras mais escondidas
e eu desenho
com a tinta invisível dos meus dedos
o mosaico da tua boca por cima da minha.

Tuesday 1 September 2015

lilith

eu vou quebrar as costelas de adão
antes que ele possa me encher de culpa
de regar com sangue árvores da vida
eu vou engasgá-lo com sabonete neutralizador
íntimo
bordar veneno em suas roupas
moer giletes sabor ferida aberta
pra dentro da corrente sanguínea
de moisés e cortarei
a descendência das fomes
eu não deixarei chover
nenhum maná
e matarei de fome os desertos
enquanto não curarem os hematomas
que deixaram em todos os sonhos
enquanto não passar a minha ressaca
de todos os drinques que eu tomei no inferno
a força
eu vou quebrar as costelas de adão
ele não sabe
de onde eu vim.