Friday 24 February 2012

Emba(ra)ço

às vezes acho
que meu nome
rima com neblina
não por ser
Carolina
mas por não me
enxergar
direito
no
m
e(u)
io
dele.

Choro:

(des)pedaço
salgado
da alma
que
c
a
i
dos olhos.

Wednesday 15 February 2012

Eram mais que seis andares

Se da curva do arquiteto
eu já não te sei
nem te (sou)be
e tampouco saberei
pois é tão perdida
quanto eu
em mim

À minha Brasília
branca e quadrada
de terra vermelha
terno e gravata
falta
a cor do irregular

Falta a umidade do ar
e das pessoas
que se esquecem
das próprias vidas
àtoas
deitadas no sofá

Nesta Brasília de cegos
os meus - dois - olhos
não são reis
de mim, nem de vocês
e se fecham, congelados

Aqui, nem alma eu sei direito
e o verso fica sufocado
estreito
e morre na falta de mar

Então me deixe voltar
pro sorriso de outrora
pro cordel, pavio, viola
pra onde o pulmão respira
sem bronquite
e meu nome é quatro letras
inteiras
na janela.

Conform(ismo)e for.

Eu tenho
sede
de revolução
mas
agora
me serve
uma lapada?
[de cana
não de
porrada].

Saturday 11 February 2012

Oração sem sacramento

À Cida Pedrosa linda, linda, linda.

Nossa senhora
(des)
apare
Cida
(no meio dos versos)
é quem deveria
ser
a santa
das causas
impossíveis
[que tem gente
que chama
de
ser poeta].

Tuesday 7 February 2012

Ranger de dobradiças

Pessoas deveriam parecer paredes e eu descobri isso depois que me revelaram esta mesma frase e seus porquês. Deveriam parecer o cheiro das teclas do piano e a textura da asa da Xícara nos dedos. E por alguma razão, elas eram tudo isso naquela tarde onde não era eu quem meditava durante os quarenta minutos do meu - quase previsível - atraso.
Foi bom ver que dessa vez os olhos passeavam atentos e não se perdiam no tédio como da outra vez - quando teve que escutar as mesmices femininas sobre regras de vestuário. Imaginava-se homem por dentro, às vezes.
O café não esfriava e tampouco terminava. E foi escorrendo assim pela garganta, aos poucos, mas quente até a hora em que finalmente acabou e - quase sincronizadamente - eu cheguei. E vi seus olhos e deveria até trocar a ordem dos parágrafos no texto, mas vou deixar assim.
"As pessoas parecem paredes", você disse. Eu lhe olhei com a minha cara de quem sabe que vai ouvir uma poesia provinda de uma conversa-consigo-mesma que provavelmente ocorrera antes d'eu chegar. Sorri e você deu entrada a série de explicações que entravam em outras explicações, que estalavam no salto da mulher que passava, fazendo aquele tec-tec-tec - que eu sempre achei meio mórbido - no ambiente que pareceu parar pra deixá-la tec-tequear por ali.
Você iniciou a explicação de gesticular tão calmo quanto a fumaça dos cafés alheios que sumiam nas gargantas dos executivos, das senhorinhas discutindo um programinha cultural, - segundo o que você me disse, era a mesa mais interessante - dos homens que (ou)viam a moça de salto ir embora e até no vestido da mãe de um menininho de uns dois anos que não se conformava em ser pequeno demais pra cafés - aqui você atrapalhou um pensamento pra dizer que crianças pareciam com cachorros e quando eu perguntei porque, você disse pr'eu perguntar depois. Falou sobre a estrutura das paredes, riu por estar sob efeito de remédios que - apesar de receitados - tinham um efeito semelhante à qualquer coisa ilegal (sem apologias) e, no fim, soltou aquele suspiro satisfeito: "É que, na verdade, a gente começa como tijolinhos bem colocados, mas vai quebrando, vão colocando umas pedras meio tortas, deixando buracos pra tapar com cimento... por isso a gente acaba parecendo essa parede aí". E o queixo indicou a dita cuja, toda irregular, com reboco aparecendo - truque do designer de interiores pra tornar tudo mais rústico.
O piano recomeçou - eu nem sei se ele havia parado. Eu me desatentei do resto por reconhecer na melodia o som dum filme. Famoso, até. Arrepiei, como de costume e "Ah, o Cinema", claro que com a também costumeira empolgação que eu tenho pro assunto.
Você terminou o café, eu pedi um frapê.
No meio dos nós nada cegos que a nossa conversa dava, tinha um guardanapo, uma caneta-que-a-garçonete-havia-tão-gentilmente-te-emprestado e os rabiscos que a caneta fez no guardanapo. Era um poema que ainda era um feto-de-poema, mas tava poemado. "Ei, tira a mão da boca!", sua voz de reprovação ardeu nas minhas unhas roídas e eu tirei, rindo. A mulher voltou tec-tec-tec com o salto e o namorado - e os homens desviaram o olhar (por uns segundos). Pareciam o casal que você estava observando antes d'eu chegar, só que menos irritados um com o outro. Ele puxou a cadeira, ela sentou e deu uma piscadela... para o homem na outra mesa.
O bebê parou de chorar - há muito, mas eu demorei pra notar - e você pediu a conta (eu já tinha terminado meu frapê). A garçonete, a mesma que tinha emprestado a caneta, a recebeu de volta e ganhou de brinde um sorriso e um "Muito obrigada". Sorriu de volta.
Fomos atrás de livros, depois de galerias, depois de um irlandês num bar no meio de um bairro tradicional de Recife. O nosso terceiro elemento chegou meio atrasado, mas chegou e comprou pipoca com leite condensado que foi motivo de piadas. Os livros voltaram a ser analisados, agora sob o olhar de seis (ou dois?) olhos. Éramos os três quase-poetas porque a gente havia esquecido de levar os cadernos que tanto disseram pra gente não esquecer. Éramos todos poetas porque a gente tinha deixado de anotar versos pra viver poemas inteiros no solavanco dos passos que nem precisavam andar assim no mesmo compasso, que se entendiam fazendo música - que o nosso atrasado elemento adorava imitar com as mãos. Éramos, na verdade, três. Três... portas. Pra passar pelas paredes.

Saturday 4 February 2012

Não foi um raio, nem trovão

Hoje o céu
piscou pra mim
da janela
assim
meio
calado
meio
de lado
[deve ser
porque
ele tava
nu
blado]

Wednesday 1 February 2012

Dose de coragem em copo de pinga

Sentimento
é pra quem
não gosta
de colocar
cimento
no coração.

Não sou marinheiro

mas eu só queria
te dar um nó(s)
ao invés de um laço
pra você só conseguir
me desatar
com um garfo
[pois aqui em casa
só tem colher].