Tuesday 20 December 2011

Um punhado de versinhos da roseira.

Para a linda tia Rosa.

Se a poesia fosse árvore
eu esperaria a fruta cair
com gosto de manhãzinha
pra te dar no café
e plantar
a
semente
no quintal da tua casa

Mas até palmeiras imperiais
são baixinhas pro tamanho
dos teus versos
que de Rosa tem mais
do que só
o nome.

E Rosa
ainda é monocromático demais
pro teu caleidoscópio
[se eu pudesse
te chamava
de arco-íris
e vagalume
ao
mesmo
tempo]

Se poesia fosse árvore
ela ia teimar pra ser menor
e virar uma
Rosa.

Sunday 18 December 2011

Entre passos de Cronópios

Você tinha constelações nas palmas das mãos e poeira cósmica que esqueceu de limpar das pontas dos dedos, depois de ter pintado o Universo. De vez em quando você deixava os punhos fechados, como quem faz birra. As vezes fazia birra mesmo e esmagava ou apagava uma estrela ou outra. Criava tantas outras depois.
Uma noite dessas eu lhe disse que estava com frio e que queria ir ver o céu, porque as estrelas me lembravam as palmas das suas mãos. Você vestiu aquela calça de algodão - que as vezes parece mais curta do que é - sem se importar com a temperatura. Alguma coisa do lado de dentro te mantinha quente e você dispensou o casaco.
Eu gosto de constelações sem nome, pra brincar de ligar pontos e você observa sempre as estrelas maiores - e Marte, porque é vermelho e você sempre, sempre se atrai por tudo que tem som de vermelho. Aí você se aproximou como se tivesse sentindo frio e encostou em mim - não ombro a ombro por você ser (bem) mais alto. Me pediu pra ficar e eu disse que já estava. Então você disse pra eu permanecer e eu segurei o seu dedinho com o meu sem precisar dizer nenhuma promessa. Você achou Marte no céu de novo.
Caminhamos um pouco mais e em uma dessas dobras do horizonte encontramos aquela menina que desenha. Ela sorriu pras minhas mãos e pras linhas poucos definidas de mim. Esboçou qualquer coisa no papel - talvez um sorriso - e me pediu que lhe falasse três coisas que me encantavam. Eu disse "O Caio", com a voz de sempre, me prolongando um pouquinho no "a". Ela revirou os olhos por trás dos óculos:
- E o que mais?
- Já foram mais de três coisas.
- Mas você só disse uma.
- O nome dele tem quatro letras.
Ela me estendeu a caneta, mas não o papel. E como sempre, quando me faltavam folhas, você estendeu o braço pra que eu escrevesse - gostava tanto disso, que as vezes eu escondia meus cadernos só pra te dizer melhor as coisas. Além do mais, de algum jeito, a tinta que eu te deixo nos braços não some, nem mesmo quando você decide correr pra dentro d'água do jeito que bem estiver, assim que seus olhos avistam o mar. Não preciso me preocupar com o risco de perder as palavras molhadas.
É divertido te ver dando ritmo às ondas. Acho que você e o mar se fazem de um só, ou se parecem tanto que eu confundo os dois - mesmo que seus olhos sejam verdes e você cisme que o mar é azul. Eu te deitava no colo e te dizia que sim, que você é feito de mar e que isso me assusta e me encanta exatamente do mesmo jeito que o rugido do oceano em qualquer hora do dia. Irrita, afoga, engasga, carrega pra longe e traz de volta. Cura. Machuca, também, se você não souber direito onde está e esbarrar sem querer em pedras submersas. E eu te dizia que via tudo isso no fundo dos teus olhos. Que eu conseguia ouvir o som do mar na concha das tuas mãos e que é facil ver as ondas se agitando nos teus movimentos teatrais.
Você tinha constelações nas palmas das mãos e sua fruta favorita é o mamão. E eu sei que você ficava irritado quando eu pedia para você descascá-lo pra mim. De vez em quando eu tinha que pedir, porque você sabe, sou desastrada e volta e meia fico com um medo muito estranho de me cortar na tentativa. Mamões. Mamãos. Você também não gostava de se importar com o plural das coisas - tudo é muito singular pra precisar assim de plural. Descascava mais um e comia devagar como sempre, pro tempo ficar zangado. E você nunca acreditava na zanga dele porque pra você, zangado não é palavra de zanga.
Uma vez você me deu um beijo de mamão. E eu não precisei descascar nada.

Com cara de paisagem

Escrevo a obra de um autor que foi jogado
Da janela da sanidade
Pra rimar bonito; defenestrado
E da poesia violada
com o ódio
da rotina.
(que o fazia
des
gostar
do ritmo.

Reflexos no aquário

Eu ando d'um jeito que não sou coração de ninguém, nem mesmo o meu. Cadê, sabe? Não tem, não. Acho que nunca tive. Não tô descrente do amor. Só não creio nele para mim – por enquanto, como acontece toda vez que o vazio tá grande demais. E cheguei n'um ponto tão aqui dentro que a minha mão não me alcança mais. E nem o braço de ninguém.
Eu sinto falta da prosa fluindo em mim como era comum. Sinto medo, também. De repente, eu me deparei com o frio na barriga nada confortável que o bloqueio de si mesmo gera.
Gabriel García Márquez ficou um ano sem escrever um tantinho sequer... e se eu ficar assim? Não. Acho que não fico. Mas pro meu imediatismo latente, um mês já é uma vida e meia que eu escondi debaixo do travesseiro.
Vá lá, me transbordo ainda, muito. Tenho alma e quem tem alma vive um tempinho sem coração. Feito aqueles peixes que passam três dias fora do mar. Mas de todo jeito, três dias acabam.

Dezenove infinitos

Era pra ter sido postado no dia sete, mas né.

Caio, se eu pudesse
te dava dezenove velas
mas não daquelas de por
em cima
do bolo
e sim das de caravela

E, Caio, pediria pro vento,
pra soprar com força
mas pra não
te deixar
cair
por algum dos cantos
do mundo

Porque você sabe, Caio
que você é
o Caio
que não cai
[pra baixo]

Por isso eu digo
Caio, mas não cai, não
mesmo depois de
uma
duas
três
vinte e nove
cervejas
que você bebe sem nem
ficar tonto
[e por isso as vezes caia pra cima
na hora
de comemorar]

Caio, esse poema tá assim
sem gosto de bolo
de chocolate
que você come
até fazer tua hipocondria
achar que vai ficar
diabético

Mas é que eu quero
que tenha gosto
de parabéns pra você
um daqueles sem
constragimento
pra você saber
o que fazer
quando eu cantar

E Caio,
tomara que não esquecam
que o "com quem será"
é comigo.