Wednesday 16 October 2013

Aqueles poemas que se escrevem sozinhos

Desfazer uma lembrança
que ainda não se faz presente na memória
é enterrar os neurônios
em sinapses emocionais entre as pernas
da alma

e se te digo em um idioma
e meio
é porque só sei atravessar as frases
e não a rua
pra te encontrar em estacionamentos de cidade grande
dizendo poemas com os olhos e todos
os dentes alinhados num sorriso
cravado no braço da vida
e mordendo com força
mesmo que a dor seja só tua

agora te escrevo aqui
com esses meus olhos que olham de longe
pra esses teus dentes que mordem a vida
com um sorriso satisfeito
da garganta que arde com o gosto do próprio ser
te escrevo aqui
sem o romantismo dos cafés e dos versos em guardanapos
escrevo pra ti
sem rimar, entre os espaços mal metrificados
então te escolho às cegas

no tato das palavras
e da língua que eu não falo
- das muitas que tu tem
escrevo o teu sorriso sem te conhecer os olhos

Wednesday 9 October 2013

Não mais que três dias

dentro de si não cabem
pontes de destino
mal atravessadas
e nomeadas
com vocativos mortos

ainda zomba dos que dizem cartas
e sortes
quando no mundo se vive
sem bolas de cristal

sobram missas mal rezadas e
pés de apóstolos obscenamente sujos
que ninguém quer lavar

e se ri.

mas não cobra cachê de criador
tampouco templos de adoração
e menos ainda bate em portas alheias pedindo
a aceitação dos céticos

render-se à verdades mancas?
para que?
o acaso é o deus perfeito