Tuesday 22 June 2010

Castelo.

Vamos, mãos hábeis, ponham-se à trabalhar! Não, não parem!
O tempo é escasso e o tiquetaquear frenético do relógio pressiona as cabeças, comprimindo e expulsando o que lhes resta de fôlego.
Finalmente, com o ágil trabalho dos desesperados, ele toma forma. E que forma! Magnânimo, colorido, em pirâmides e estruturas bem elaboradas, em desenhos confusos e números e símbolos. Vai surgindo, aos poucos, na atmosfera árida de respirações suspensas, num emaranhado de vermelho, preto, branco e tons de amarelo. Vê-se a casa, a torre e o castelo, o prepotente gigante de mil metros.
Finita a obra, milhões de olhinhos minúsculos viram-se, devotos, admirados, para a obra arquitetônica, para a superioridade tirânica de suas formas, de suas faces de rei. E todos os pulmões reprimidos, relaxam, soltando um suspiro uniforme, a lufada suave de submissão.
O ar põe-se em movimento.
Acabou-se.
A pobre estrutura de cartas de um baralho qualquer, sucumbe ao frágil toque de uma cega admiração.

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