Sunday 5 April 2015

urbanos I

há um conta gotas pingando chumbo nos meus ossos
e os escombros debaixo das minhas unhas
asfixiam os meus poros sem nenhuma gentileza
como se respirar fosse só mais uma ocupação ilegítima
para atrasar meus dedos aflitos para enxugar
o ácido que escorre de uma ficção científica mal escrita
formando poças embaixo dos meus olhos
e as minhas lágrimas se suicidam o mais rápido possível
como se desse para não pertencer mais a mim depois de ir embora
- e dá, eu sei -
igualzinho o jeito que tantos conjuntos de passos já pularam das janelas
dos meus avermelhados globos oculares
das minhas lentes sem anti-reflexo
onde os prédios se projetam para dentro do meu cérebro
e as vias congestionadas sem mais espaço para foodtrucks
ou as demais gourmetizações das ruas artificiais
montadas em estacionamentos de shopping
viram pequenos curta metragens conceituais sobre coisa nenhuma
e como o meu espaço se resume a pequenas ruas
veias
desvios de rotas sanguíneas
e fumaça
que na verdade não quer dizer coisa nenhuma além do
burburinho que se escuta no centro
e ainda ouço, nas minhas esquinas
que eu costumava ser uma cidade.


1 comment:

  1. São tantas palavras que você me emudece, qualquer elogio seria tão ínfimo para o que eu queria dizer sobre a sua escrita, sobre o seu grito.

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