Thursday 9 April 2015

laetitia

letícia está escondida atrás dos nervos ciáticos
por terem nomes tão bonitos
e se projeta para fora do mundo toda vez que inspira profundamente
está oculta como a voz do terceiro seio de uma menina amada até os intestinos
está em cima de uma bicicleta rodopiando em queda livre
e dentro dos fios de um corpo elétrico
letícia vive exposta nas principais galerias de arte de rua
como vênus abertas às pilastras de um viaduto
com olhos e dedos de curiosidade
e se letícia fosse canonizada
pintaria do vermelho mais profano a capela sistina que tanto lhe censurou o útero e daria festas nada virgens nos grandes salões de celibato até que se ruísse toda a moral e já a nudez não seria mais castigada
letícia ainda se afoga em vinhos de nomes duvidosos e tem os olhos devoradores de tudo enquanto descobre mais poesia que poeta nas visões turvas dos outros
e percebe
a indissociabilidade das duas coisas
por ter o ventre colado às letras
e os pés equilibrados em balanças e balanços da celebração da própria existência de alegria conturbadamente plena
enquanto recita com a entonação de desespero de brasília
letícia se materializa com a onipresença expiatória de uma arma na mão
e um tiro
na testa

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