Sunday 11 January 2015

siga saída sul

as traças resistem às incessantes bolinhas
de naftalina que alguém ainda usa
tenho certeza que alguém ainda se preocupa com isso
e que por aí a manhã continua seguindo protocolos
e se levantando ainda quando o sol não se espreguiça
por conta de um horário de verão que reclama tanto quando vai embora quanto
quando chega
brasília ainda é a cidade engolida pelo céu
hoje a tarde, de um modo menos sufocante
já que dá para ver desenhos nas nuvens
menos que isso me afetaria mais a inquietude claustrofóbica
que fecha vias principais dias de domingo para andarem de bicicleta
e a cidade parecer menos fria ao calor do meio dia de asfalto sem praia
e um monte de foodtrucks sem metade da graça do cachorro quente de lei do baixinho
brasília é um pouso não acontecendo
e as veias de barro de qualquer curva que o arquiteto fez só pulsa
em muros pichados por quem ainda grita com a garganta seca e mora
para lá
brasília tem o sangue que é cerrado de terra
cerrando o calor das minhas pálpebras
que procuram capibaribes e morrem
na praia
do lago paranoá

2 comments:

  1. Brasília então se curva diante de sua poesia. Quase tão seco e doido quanto o sertão, certamente também bonito.

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    1. Fico muito feliz que tu tenha gostado, Gy. É muito bonita a tua forma de comentar nos meus textos e eu fico muito lisonjeada, sempre!
      Cheiro, minha linda!

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