Sunday 25 January 2015

nota sobre previsões do tempo

a humanidade sufoca nesse concreto, nesse campo de refugiados vazio e sem lugar pra sentar. brasília assassina os meus olhos de fotofobia sempre que eu passo pelo centro da cidade toda pintada de branco, feito uma mulher num altar insuportavelmente quente ao meio dia. brasília só sabe sangrar em dias de chuva, quando o barro vermelho afoga as passagens subterrâneas de uma via para a outra da cidade.
brasília esquece que eu não tenho pressa já faz tempo. esquece que eu ainda olho as paredes da cidade pra descobrir o que os artistas andam falando por aí sobre o sexo censurado nas comunidades conservadoras. esquece que eu não me conservo absolutamente, ainda bem. mas faz questão de lembrar o quanto é ofensivo pertencer ao próprio corpo e correr com os próprios pés e ter vinte e dois anos e ainda preferir usar calçados confortáveis mesmo que se tenha que entrar em repartições e órgãos governamentais.
essa semana, quando os carros paravam pra esperar pedestres atravessarem a rua, eu era um dos pares de pernas cortando as faixas brancas do chão e a chuva acompanhou as minhas costas até em casa, pesando nos ombros até eu conseguir deitar na cama.
qualquer outra coisa consome todas as horas antes do meu sono agitado até os passos do outro dia.
contagens regressivas costumam causar claustrofobia e o céu daqui também, te engolindo em azul.
ao menos, em dias pouco nublados, o pôr do sol é bonito.

1 comment:

  1. Ai, céus, assim eu me apaixono por Brasília e ainda mais pela sua poesia. Vontade de te ler todos os dias, guria

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