Tuesday 23 September 2014

arritmias

vejo as pontes do recife batendo palmas submersas
ignorando a sujeira do capibaribe que passa por baixo do meu caminho de casa
e a boa vista está embaçada pela minha miopia
pela minha falta de sono pelas minhas olheiras pela lata de pitú que eu tomei
como se fosse uma coca-cola  tirada da minha mão pelo poeta invadido de palestinas
e do outro lado das pontes do recife eu vejo um bailarino fazendo teatros
plurais de conjuntos ritualísticos que eu peguei numa conversa pela metade
de intrusa
e vejo ainda um bairro sem nome, onde eu não conseguiria chegar de novo
e nesse lugar perdido entre as ruas
eu te vejo atravessando os espaços entre os dedos das minhas mãos
atravessando os espaços entre os dedos pouco recorrentes do tempo
do jeito que eu já tinha escrito na contracapa das minhas pálpebras
quando o amor era o resumo do vermelho que eu exergo quando fecho os olhos
ou quando eu giro tentando escapar um pouco da embriaguez pra ensinar pro meu alter ego masculino
materializado num nome calmo passos desconexos de dança que ele ensaia em cima de uma bicicleta
depois que eu paro de dividir estrofes para observar as usinas dos seus olhos
e as usinas dos teus olhos saberiam falar mais baixo
e as usinas dos teus olhos choram no final do caminho de casa
e as usinas dos teus olhos dormem encostadas desajeitadamente no ônibus que tu perdeu três vezes
e as usinas dos teus lábios dão choque nos meus desvios de olhar

a cela do instante me tem irremediavelmente acorrentada à minha irresponsabilidade
pra me jogar nos bracos do presente nesses momentos de consciência quase plena
onde o destino se revela acaso divino cujo único propósito é desfazer em impressões digitais e cicatrizes
a falta de graça do que é corriqueiro transformando madrugadas
em panelas de pressão explodindo estrelas no limiar do amanhecer onde eu me nego a ir pra casa
durante vinte
trinta
quarenta e cinco minutos
antes da claridade esconder as galáxias
e antes do sol alto se esquecer dentro dos nomes reluzentes dos ônibus que eu não leio
e enquanto tu caminha e eu acompanho as teus ombros
as coisas sem nome nascem e morrem
nas usinas dos seus olhos.

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