Monday 4 April 2011

O defloramento da primavera.

Escreito com a Anne. Muito obrigada por conseguir me fazer versar, moça.

Bateu feito vento lamentado
pesado, meio assim, pingado
quase um suspiro amante jogado
nas armações frutíferas da amoreira
E se desfez no som desajustado
do doce ferver da chaleira.

E perdido na botoeira de um rapaz
um pedúnculo de flor, jazendo em paz
diferindo da tempestade audaz
que se lhe formava no peito.

E folhava este algo o livro-desfeito
estreitando o olhar pelas curvas letradas
e desmembrava palavras manchadas
pela marca d'um amor-perfeito.

E a confusão que tomava conta do efeito
aproveitando afundava-lhe os dentes
Saía-lhe da garganta o grito impertinente
de quem confessa verdade profana:
eu te amo, a alma declama!

Seja o vento que for, no tormento qualquer de dor
e ainda, acima de qualquer amor
Amo-te, ó doce dama, que se descama em flor
e a boca me falta quando chega esta lembrança
que é tanta e tão pouca me salta
que faz-me arder com pungente falta
do sussurro gritado do escritor.

No comments:

Post a Comment