Monday 11 November 2013

Atemporalidade adverbial

eu ainda não desfiz a mala
por hábito de procrastinar
e pra não deixar fugir o restinho do cheiro
da casa e dos pelos de gato
que me restam aqui

eu ainda tenho a mania
de apertar forte a tua mão
pra atravessar a rua
mesmo que agora
meus dedos não segurem nada
[mas ainda aperto os dedos
quebrados de verso
da tua mão
quando passo pelas casas assombradas]

eu ainda prefiro não encostar na parede gelada
e desprefiro a cama vazia
com uma só alma
e lençóis

é que eu ainda
não aprendi a dormir sozinha
sem tuas pernas pra dar nó
nas minhas

e eu ainda peço beijo
só pela vontade
que corre pela janela
sem ir embora de mim

eu que ainda não aprendi como se rima
ainda sinto algumas delas escapulirem
e se jogarem, suicidas
em forma de lágrima
dos meus olhos de poeta míope
poeta-quase
enxergando
os meus próprios desencontros

eu, eu mesma
que ainda queria poder pedir
pra me calçarem os sapatos
desamarro tudo mais ainda
pro coração não apertar mais

eu.
ainda.

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