Wednesday 17 October 2012

Tagarelice no banco do carona

Brasília não sabe chover. Não chove direito. E as pessoas que a Bárbara disse pra mim que pareciam paredes continuam lá, paradas. Secas. As pessoas daqui esquecem que tá chovendo, só pode! Pra continuarem secas assim, a ponto dos lábios racharem.
Thais, cê lembra de quando você disse pra mim que sentia dor na ponta dos dedos? Eu tô assim, sabe?Os dedos e os pulsos doem, também. E não sei desde quando, mas parece que é tempo demais e doem o tempo todo. Mais do que no peito... Mas quando dói muito, muito mesmo, doem os dois e eu me encolho igual a todo mundo faz, mesmo que só em pensamento. E tava seco ultimamente, então eu tinha crise de asma sempre que doía, porque parece que eu não sei respirar direito quando dói.
Tira a mão da marcha! Tu e esses teus vícios de direção... Meu pai vive me dizendo que é perigoso segurar a marcha enquanto a gente dirige. Ainda mais quando chove porque tu sabe que as vias de Brasília viram sabão e fica fácil o carro escorregar que nem os "s's" do teu sotaque de carioca. Pernambucanos também puxam o "s", né? Mas eles falam o "t" e o "d" diferentes, também. E ainda mais quando eles declamam poesia... Nossa! Parece que puxam o sotaque e fica tão bonito! Lembro de quando o André inventou de ser Jesus lá no Recife Antigo e recitou um cordel todinho que ele sabia de cor! E foi só o primeiro! Ele tem um monte na cabeça. Talvez a memória dos pernambucanos seja melhor, também.
Sim, sim! A Bárbara também sabe um monte de poemas de cor. E lembra das pessoas parede que eu te falei? Pô, Thais! Tem nem cinco minutos que eu falei (se eu ler o texto corrido, né)! Viu? A memória dos pernambucanos é melhor que a tua! Mas sim, ela que me disse isso das pessoas paredes numa tarde no café do Paço Alfândega. A gente tava esperando o Dé pra ir na Cultura e ela tinha tomado aqueles remédios pra sinusite que deixam ela grogue. E tinha uma parede de tijolos desajeitados... Coisa daqueles designers que procuram fazer ambientes rústicos, sabe? E ela deduziu que pessoas são que nem aquelas paredes. Começam com tijolos arrumadinhos mas depois de desencontram da simetria. Também disse que criança é igual a cachorro. Por quê? Ah, Thais, isso ela nunca me explicou.
Ó, entra ali que a gente tem que passar na Locadora... tô com filmes atrasados de novo. Nem se preocupa, eu salto rapidinho e devolvo. Um tico de chuva não faz mal pra ninguém.
As pontas dos meus dedos tão doendo de novo... sabe... isso é tão esquisito. Acho que a gente sente as coisas nos lugares errados. Nem a chuva todo mundo sente igual, né?
Para, para, deixa eu atravessar aqui e acha estacionamento. Acho que eu vou querer pegar mais filmes.

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