Sunday 27 March 2011

Sobre o que a Cidade não esquece.

Sonhava certa menina no desabrochamento na infância
Em ganhar sorrisos e guardá-los em uma caixinha
E os plantaria, todos, para crescerem como convinha
Saía atrás dos mais bonitos, tamanha era sua ânsia

Era ainda um tanto pequena, de poucos habitantes
Incompleta, ainda, mas ainda assim, sorria
Para aqueles poucos seres cansados que via
Sabia que pronta só estaria n'um futuro ainda distante.

Aumentaram-se as construções de areia à beira da praia
As ondas agora esparsas, longe dela passavam
O corpo ia-se moldando, os cabelos encurtavam
E a inocência se despedia nos fiapos da minissaia

A boca perdeu o sorriso n'um beijo indesejado
E por esses dias, encontrou um menino
Que ria, tagarelava e dizia desatinos
Era um pobre maltrapilho pela vida apaixonado

Tal qual Chaplin colorido de matizes de primavera
Iluminava os becos dela com passinhos miúdos
Enchia a caixa da menina, de precioso conteúdo
Os lábios arqueados, uma vida quimera

Uma pena que o feixe de luz foi fugaz
E a arma enferrujada, o canivete vagabundo
Arrancou o ar do menino e o levou do mundo
Fecharam-se os olhos do pobre rapaz

Queria poder chorá-lo com as lágrimas de chuva
E inundar-se como a cidade em que vivia
Ela e aquele sonho que o fim da juventude esvazia
Varrendo aquele resto de maquiagem pela sarjeta da rua.

No comments:

Post a Comment