Wednesday 5 January 2011

Síntese de Tom.

Escrito em conjunto, com o Léo.

Arredio. Não sei por que cargas d'água sinto-me como o mais reprimido dos ratos, aquele cujo esgoto escorre nas veias doentes. Quiçá, seja apenas impressão. Volta a mim aquela velha expressão de estar em "Buraco". Sim, aquela escuridão de bordas doloridas da qual eu vivo falando em todas as dimensões de mim. Contorço-me na cama, fazendo a madeira estalar e a sensação que tenho é que vou acordar toda a hospedaria. Não com o barulho do dito berço adulto, mas sim com o gritar frenético da minh'alma... Muda. Ora, ninguém irá ouvir-me. Nem boca tenho mais, deixarei de bobagem. Encolho-me nos pijamas para caber menos em mim.
Arredio. Eu gostava de ser ouvido. Ouvido por mim mesmo. Eu e meus pensamentos, minhas idéias, diálogos infinitos sobre mim. Sob mim. Mudei. Já que não fui capaz de me mudar. Nem sequer anunciar que planejava todos os dias, aos gritos, mudar-me. Cansei de aparentar. Escondo agora dentro de mim, só pra mim o meu sabe-se lá o que. Cansei de egoísmos. Sou o mesmo garoto que ainda precisa aprender poesia. Deveria eu, então, aprender poesia? Redondilhas, decassílabos, ritmo... Ora, seria isso mesmo poesia? Eu não quero ser assim, nunca soube encaixar-me em nada e... Encolho-me mais, dessa vez porque dói. Foi tão ruim assistir a peça de minha própria vida durante todo tempo. E essas veias entupidas com as minhas letras? Questiono meu egoísmo, desfaço-me de mim, mas isso nunca me foi um sacrifício, nunca me tive. Refaço meus filmes imaginários, minhas pinturas, tentando achar alguma mensagem subliminar, ali no canto, uma queimadura de cigarro qualquer que me explique. Explique o que? O que? Se soubesse o que busco, talvez encontrasse, ou ao menos teria algum caminho. Não sei a resposta, não sei a pergunta, mas sei que algo precisa ser solucionado se é que há um problema. E é quando vejo o castanho céu ao fim das tardes que se enche de vazio o meu peito/alma, ou talvez só o lado direito de meu cérebro. Enfim... É tão mais simples deixar que anoiteça e aproveitar o outro dia. Afinal, o castanho céu não dura. Gosto tanto dessa capacidade natural que o céu tem de mudar. É natural e sem questão. O Sol vai e eu sempre tenho a certeza que de alguma forma ele vai voltar. O lado direito do meu cérebro? Bom, ele lateja. Ou talvez eu o esteja confundindo com o gotejar de batidas do meu miocárdio afetado. Sabe o que sinto? Não, não sabe. Tenho pincéis e não tenho tintas. Quisera eu saber o que me falta para misturar meus pigmentos novamente. Mas eu nunca fui bom em saber do que tintas eram feitas. Foi daí que criei a teoria: As tintas são feitas de artistas e os artistas são feitos de tintas. Mesmo sem saber a procedência, ocupo-me da eficiência. Jogo-as, deito-as e depois as tiro em atos quase impensados - digo "quase", porque em minha mente roda a tese de que possam ser formulados em uma discreta parte da minha inconsciência ou consciência, chame como quiser -, os quais não vejo, mas sinto o cheiro. E ela, a tinta, sempre me diz o que sou e o que sinto. Sempre de forma clara, e ainda assim eu não compreendo. Talvez porque tenha esquecido de minhas próprias cores. Sou artista, preciso, então, ser feito delas.
Deixe-me cá, pintando a minha tela mental, com meu Impressionismo-surreal-dadaísta. Deixe-me pintar-me de mim e aí sair para pintar o mundo.

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