Sunday 12 June 2016

Resquício

O meu amor recarrega as baterias dos meus poemas eletrocutando as minhas terminações nervosas
dos cílios para baixo.
O meu amor amarra aos pulsos os meus golpes.
O meu amor tem compassos de bolero no peito e dança sempre nos ritmos mais atravessados
e me diria que talvez andávamos sem buscar-nos como num livro de capa vermelha mas também nesse fim de verso
sabíamos que íamos nos encontrar
mas o meu amor diz que a imprevisibilidade dos nossos tarôs é que são realmente encantadoras
O meu amor diz que minhas letras e as dele são diferentes mas que se encaixam tão bem
quanto as nossas silhuetas
e também nas palavras dele o meu amor seja um, mas são dois e um nó.
Ah, o meu amor arqueia as sobrancelhas pra quem lhe tira os temperos da mesa mas me consome sem guarnições
O meu amor me come com mãos porque descarta dentro de mim as disciplinas da etiqueta
O meu amor divide apartamento com o caos e por isso talvez eu tenha me desordenado tão
confortavelmente sobre a cômoda e as miniaturas de desenhos animados
O meu amor viaja pelos signos estelares mas o meu amor não lembra bem das referências de Blade Runner
e talvez isso seja bom porque assim eu me aviso que nada disso will be lost in time like tears in rain
Porque as lágrimas do meu amor são transparentes apenas pra quem não o sabe de dentro
O meu amor me deixou entrar quando já não chovia
e neste dia o meu amor flutuava por cima de um tapete negro e transita no meio das próprias pontuações duvidosas
O meu amor sabe usar reticências como quem termina esperas e suspira
O meu amor entende, agora.

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