Monday 29 February 2016

Oficío dos ossos

Eu respiro longamente demais as vezes, infinitamente e eu queria, enquanto armo essa rede de ar, abrigar o as tuas extremidades que eu observo e almejo com a mesma intensidade e urgência com que eu quero tudo sempre. E isso te assustava, obviamente. Via isso todas as noites ou manhãs ou espaços de dias que a hora pouco importa, via um susto nos teus pêlos quando sentia que os meus ossos queriam tomar o lugar do teu esqueleto e eu te puxava por baixo da pele, o avesso cada vez que eu queria acabar com a presença do espaço.
A minha sede do mundo queria te tomar inteiro, do suor ao gozo.
Te assustava, mas quanto menos imprevisível e mais impetuosa eu era contigo, mais você chegava perto. Esperar o meu toque era o sorriso do teu susto. Enfiar os dedos em mim por baixo da mesa era sempre o arrepio que incentivava a ausência de calcinhas em dias ímpares. Não que você não gostasse de afastá-la quando estava lá, mas de vez em quando eu gostava de facilitadores. Isso não te assustava. Nem isso, nem o jeito que eu te olhava todas as vezes que te chupava depois de ter beijado o caminho todo do teu corpo, com e sem a minha língua em cima do teu gosto de sal.
Tu de sal, e eu de açúcar, segundo as tuas palavras entre as minhas pernas, depois de ter me feito gozar repetidas vezes, porque te divertia o cabelo sendo puxado repetidamente e cabeça pressionada se novo e de novo. Toda vez que tu me chupava me dizia, sempre depois de me beijar, que eu era doce. "Mas doce, mesmo.", como quem tentava me explicar que não era eu e as minhas manias de manhã seguinte que eram doces, mas o que tu sentia toda vez escorrer da minha boceta.
Éramos alguma coisa sem forma quando queríamos dar as palavras um sabor diferente pra deslizar pelo corpo. Foder era falar o mínimo possível com as palavras, mas saber que as exclamações dos meus ou teus gemidos e as tuas ereções e lambidas e a força com que tu me deixava mordidas redefinia os dicionários do nosso espaço. A vontade de saber o gosto que tu tem me enche de curiosidade ainda hoje e a tua cretinice em não ceder de propósito, mesmo querendo, me dá uma agonia sem precedentes. Aí entra a minha cretinice de te perguntar "O quê?" todas as vezes que você não completa uma frase só porque tu sempre diz que "Você já sabe, você só quer me ouvir dizer" e eu respondo que eu sei, porque eu sei mesmo e adoro quando eu escuto exatamente o que eu já sei que vou ouvir. Isso sempre foi uma garantia de que a gente sempre esteve nesse jogo que nunca soubemos até quando ia ser divertido. Isso é uma foda. Não estou falando de sentimentos muito mais profundo aqui, você e eu sabemos que é só a vontade de consumir tudo, a queda da corda bamba e o frio descendo e derretendo em calor no ventre. Uma foda.
Outra foda.
Mais uma. Suor, porra, saliva. Tudo de novo, na minha cara, na tua. O meu colo e o teu, as minhas reações incontidas e os meus cabelos nas tuas mãos de maneira pouco gentil. Tu é um conjunto de orgasmos dentro dos meus copos de embriaguez extensa me percorrendo e percorrendo e percorrendo.
As minhas costas tem ainda uma unha tua e os meus dentes marcaram cada uma das minhas gozadas no teu corpo.
No outro dia eu acordaria e deixaria isso tudo na tua cabeceira com dois bilhetes, pra voltar depois.

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