Wednesday 15 October 2014

ventre louco

nenhuma vida eterna vale os meus instantes
de profanações desarticuladas
e a culpa de não ser santa não me tapa mais os ouvidos
ensurdecendo gritos de dor e mais dor e mais dor ainda
que uma vossa santidade me fez transformar em culpa
ah, eu arranco no dente as mãos que vierem
me censurar a nudez e a tagarelice

eu quero tornar a menstruação palavra sagrada
instrumento poético escorrendo pelas pernas
de todas as minhas ancestrais bruxas
que foram arrastadas pelos cabelos para as mortes diárias
em fogueiras feitas de vestidos longos
carregando a pena de ter nascido com uma boceta chamada
inferno
contornados por dedos doentes cobrando explicações
sobre um absorvente que vaza lágrimas vermelhas borradas de desgraça

quero estraçalhar o alfabeto com as mãos nuas
quero cobrir as línguas dos carrascos com facas
quero que me permitam o ódio
para que se leiam todas as estrias
do meu corpo irregular
eletrificado pela indisciplina da idade
pouco educado nas universidades de não violência
e que se emudeçam todos os discursos
em nome do fim do analfabetismo das
quatro letras que deveriam me habitar


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