Monday 25 August 2014

sessenta minutos pra chegar em santos

to desengolindo toda a trilha sonora
que eu não compus
os arranjos todos muito hiperbólicos se aglutinam
nos sulcos da minha língua mordida pelo descaso
ácido
carregado por longos tantos anos que nem são meus
embaixo das unhas que a minha ansiedade roeu
e tudo que me cansa é essa minha ainda dificuldade de
vomitar qualquer coisa que não pareça uma ressaca
uma falta adolescente de empolgação
um desespero anuviado
e uma trilha sonora que eu não compus estancando qualquer coisa
e eu ando tão cansada de qualquer coisa

ainda sei que três meses tem muitas horas
mas eu nunca foi boa com cálculos imediatos
e tomara que esse espaço na comporta feita de pano
cobrindo a minha alma como uma fantasia de um filme infantil sobre o halloween
seja um anúncio de um futuro rasgo feito em poucos minutos
pelo estiletes invisíveis das línguas que me acompanham
e das viagens que eu não fiz

dessa varanda eu venço meus medos de alturas
mesmo que so de mentirinha
em cima dos meus joelhos trêmulos
onde observo São Paulo
que não arranha céus, mas os recorta
picotando o ar seco
e me vejo confortada
pela solidão que eu bisbilhoto
de uma janela aberta à minha frente
duma casa vazia
[apartamento pra alugar]

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