Thursday 9 August 2012

Prosa acróstica

No começo do fim de tudo, parece ser apenas nada. O que? Tudo. E a vida segue o fluxo turvo de rio pra quem reluta em se dizer poeta. É tempo de águas agitadas, mas nem a tempestade tem força pra aparecer. E quase na metade do leito desse rio, há uma canoa.
Oscliva quieta na correnteza e carregava o mesmo menino que a escondera no nome durante um percurso esquecido (antes ou depois do rio). E ele também oscilava. Um pouco mais que todo o resto, por sentir-se tão vazio. Quase como se o vento fosse soprar e levar a pele que recobria alguma coisa oca. Mas sentia, apenas. Não sabia ser vazio nem mesmo quando estava e, agora, o nada dos fins fazia latejar o interior de si pra arranjar espaço. Instalou-se e esmagou a alma que já não cabia direito no corpo. Fez doer, porque o órgão mais vital da existência comprimia-se tentando dar a volta no buraco de bordas doloridas no qual ele se via na iminência de cair.
Agoniava-o não conseguir chorar, do mesmo jeito que eu sempre te disse que eu não gosto de segurar choro, porque aí não consigo abrir espaço entre minhas tristezas.
Na verdade, eu sempre vi esse menino como alguém onde eu me enxergava e por isso me afligia vê-lo assim, por me sentir da mesma forma que ele. Meu nome sempre foi neblina demais e era agora como ele via. Não através de mim, mas da mesma forma turva que eu. Que o rio. No fundo era a mesma coisa e nada e, por isso, deixei pra ele dentro de um livro de poesia de folhas secas prensadas, um bilhete que eu já escrevera pra mim: Nada pode virar verbo e remo.

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