Monday 18 July 2011

Às oito letras que eu guardei num baú.

Não era uma vez, não. Eu nunca achei essa expressão bonita. Maldito o que inventou esse jeito de começar narrações – embora eu adore escutar a minha avó me contando a história da Lua e do Sol começando assim, com o “Eeeera” bem enfático. Não era uma vez, era uma alma. Era não. É. É por longos quase dezenove anos. Uma alma que é dentro de um corpo que carrega um nome – que muitas vezes pesa mais que a alma, o corpo e as roupas e acessórios juntos. Vocativo forte até, o dele. Significa protetor, inteligente, ousado e até alto – dependendo do livro de nomes pra bebê que você pesquisar. Começa com F, letra que é uma das que eu mais gosto de escrever (vá por mim, fica até bonita com a minha letra de menininha) e vai indo pelas outras letras combinadas até formar o tal Fernando.
É possível que se “Fernando” fosse uma palavra n’um dicionário, – não o de nomes pra bebê, por favor – deveria designar uma pessoa com um excelente gosto musical e uma capacidade absurda de rir da desgraça alheia, além de também adjetivar indivíduos com forte tendência à hipocondria e medo de personagens infantis – mas se “personagens infantis” disser respeito a palhaços, acho que seria mais fácil usar “Anna” e se fosse medo de galinhas, “Isadora”.
O caso é que Fernando ainda não é adjetivo ou substantivo. É, no mais completo clichê, sujeito – às vezes predicado, porque ele é quem costuma desenrolar as frases empacadas de mim – d’um universo feito volta e meia em textos que não fui eu quem escrevi, mas que de vez em quando eu ponho umas vírgulas no meio dos enunciados. O rapaz é dessas figuras que destoam: parece que o retiraram – junto comigo – do meio de uma década ida e largaram cá (ainda bem!). Fernando é bem dessas figuras que destoam.
Sempre achei esse um nome forte, mas nem me passava pela cabeça que essa força toda ia servir pra me sustentar o canto dos olhos pr’eu não cair. E que esforço que um dia foi me tirar um sorriso. O bonito é que ele fazia os dele de corda pra me puxar de dentro do meu quarto escuro. E não é que agora eu estou do lado de fora?
Vou-me terminando por aqui porque eu falo, falo e refalo e consigo formar no máximo uma foto três por quatro de todo o emaranhado de fotografias mentais que tenho arquivadas cá na minha caixinha-pulsante-de-sentimentos ao som de Beatles.

No comments:

Post a Comment