Thursday 19 May 2011

Se ladrilhar não se pode, estendem-se as linhas.

Escrito com a Anne.

Passei dois mil dias e meio a desfiar um pano
Para fazer linhas - meio elásticas -, bem fininhas
Guardando e solvendo em vida maior engano
Posto que dele envolvem-se em pé as entrelinhas.

E no meio dos nós que fiz nas pontas
Enlacei a tua vida meio destoando da minha
Correndo em frente, mas com a mão na tua
Do passado que se já não se lamenta é que
Pende-se ao versejar tão seguramente pela rua.

Mas eu esqueci que quem corre demais, tropeça
Quando vi, já tinha embolado as pernas todas
Naquela mesma linha que amarrei lá na frente
Não teve jeito: caí de ponta-cabeça.

Pregou-me o lume do vagalume quente
Caiu-me ao certo, bem no peito
Como quem queria pô-lo num letreiro:
Quem muito vê, turvo enxerga o horizonte já feito.

Me diria, então, meio cega e com defeito
Fiz careta com o gosto do barro vermelho
Que sujou a roupa, o corpo e cá dentro
Além de tudo, me rasgou o joelho.

E eu crendo em crentíssima crença
Na divindade do amor que me governa:
Não há um só momento que valha
Todas as linhas já postas ou a interna,
Que não desfaz-se por nada da tua
Na verdade, ela se mistura
Pr'eu me confundir cada vez mais
E tropeçar outras cem mil vezes
Se não aportar no mesmo cais.

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