A lenta máquina do desamor é uma geringonça de vidro enorme e muito, muito pesada. É um casaco cheio de pedras de um suicida e é a roldana fragilizada de um arco que não souberam manusear. É o fogo que ainda queima as minhas páginas mais antigas.
A lenta máquina do desamor ajusta-se a minha velocidade de vez em quando, sim. Especialmente quando o meu relógio está cinco minutos adiantado.
E hoje, já não te amo mais. Já não quero esticar os dedos e cravar as unhas como se fosse o desespero subindo no teu peito no meio da madrugada. Nem mesmo quero esperar o resto de sangue estancar ou sequer ouvir o barulho dos teus pés arrastando no chão.
Já não te amo mais, meu amor. Eu te abandonei nesse poema, que nunca tive vontade de te entregar, sinceramente. A lenta máquina do desamor sempre foi minha e só minha e eu nunca precisei colocá-la pra funcionar porque o amor era no fundo dos meus olhos esse desencontro, mesmo, e eu sabia que era pesado e era de vidro e ele não embaça mais com a lembrança do quanto tua pele cheira mais quente do que a de todo mundo e o vapor das tuas lágrimas não condensa coisa nenhuma em mim. Nunca fui um bom laboratório pra o que te destruía diariamente, eu não sei inventar curas e você insistia em me fazer de paliativo pro teu final dobrando o dia vinte.
Eu não era um caminho, nunca quis me fazer caminho. Eu sou o fim do encontro, a bifurcação desastrada que vai te levar, fatidicamente, pro lado errado, bem que você me disse, não é mesmo? Você disse que iria plantar pés de mamão mas eu nunca tive quintal, eu nunca quis ser a tua casa e você sempre me lembrava que eu sou a impressão triste que dá ver uma poltrona vazia em uma sala imensa. Tinha que ter alguém ali hoje, mas eu já não te amo mais.
Friday, 20 November 2015
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