eu ainda não desfiz a mala
por hábito de procrastinar
e pra não deixar fugir o restinho do cheiro
da casa e dos pelos de gato
que me restam aqui
eu ainda tenho a mania
de apertar forte a tua mão
pra atravessar a rua
mesmo que agora
meus dedos não segurem nada
[mas ainda aperto os dedos
quebrados de verso
da tua mão
quando passo pelas casas assombradas]
eu ainda prefiro não encostar na parede gelada
e desprefiro a cama vazia
com uma só alma
e lençóis
é que eu ainda
não aprendi a dormir sozinha
sem tuas pernas pra dar nó
nas minhas
e eu ainda peço beijo
só pela vontade
que corre pela janela
sem ir embora de mim
eu que ainda não aprendi como se rima
ainda sinto algumas delas escapulirem
e se jogarem, suicidas
em forma de lágrima
dos meus olhos de poeta míope
poeta-quase
enxergando
os meus próprios desencontros
eu, eu mesma
que ainda queria poder pedir
pra me calçarem os sapatos
desamarro tudo mais ainda
pro coração não apertar mais
eu.
ainda.
Monday, 11 November 2013
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