eu quero meu corpo de volta
levem as roupas que vocês me obrigaram a usar
levem, levem todas
e esse cabelo que não é meu
podem raspar, ou então me deixem
deixá-lo crescer
da cabeça aos pés
porque eu pêlo não é vergonha
o meu corpo não é vergonha
o meu corpo não é de vocês
o meu corpo não é um artigo de loja
e vocês ainda o vendem
emprestam
trocam
tocam
[mesmo que não seja de vocês
mesmo que eu diga que não
mesmo que]
e dilaceram violentamente
o meu amor por mim
por isso eu quero meu corpo de volta
pra que seja meu, pra dar, pra não dar
pra raspar
dobrar
para engordar fora das fitas métricas nas quais vocês me enforcam
eu quero meu corpo de volta pra receber visitas desejadas
sem forçar as fechaduras
eu quero as minhas chaves, sem cópias, só minhas
que o meu corpo é minha casa.
Thursday, 13 February 2014
Wednesday, 12 February 2014
Buquê de parede
doze rosas
com sessenta espinhos
circulam duas vezes
pra morrer num dia
e dois
e três
e anos.
doze rosas
com sessenta espinhos
enfeitam de rugas
o rosto coberto
de ontens.
doze rosas
com sessenta espinhos
que pesam
no caixão.
com sessenta espinhos
circulam duas vezes
pra morrer num dia
e dois
e três
e anos.
doze rosas
com sessenta espinhos
enfeitam de rugas
o rosto coberto
de ontens.
doze rosas
com sessenta espinhos
que pesam
no caixão.
enforcamento insone I
desenlaço
sem charme de espartilho
os cadarços
que eu esqueci
o que amarram
e tropeço
nessas mesmas cordas
que se fazem
forca
o sorriso arfa
e desce
goela abaixo
pra quebrar o resto do pescoço
tudo morre
num nó cego
Ch ch ch ch changes
o tilintar
da rua da moeda
nos meus bolsos
contra os versos
co’outros versos
conta os versos
sem economizar
[pode ficar com o troco]
Tuesday, 11 February 2014
poema em uma segunda-feira com cheiro de domingo
retorce essa tua teimosia
- que reflete a minha
entre os meus dedos
esmagando as nossas palmas uma contra a outra
pra não sobrar ar entre os vãos
que encaixam as minhas mãos e pernas
nas tuas
me mostra essa lista de desgostos
esse mesmo peito fechado pra eu untar
de mim mesma até desemperrar
deixa a poesia ser
de novo
esse pé-de-cabra que sirva pra alma
esse pão nosso de cada dia
nesse teu ato de profanar cadernos em branco
desembesta esses demônios, que eles brigam com os meus
contrários, gritantes e exaltados
e os teus que herdaram essa tua raiva quieta
- não se encarcera nas grades deles
e deixa o inferno se queimar sozinho
não disfarça esse rosto envergonhado
e lembra dos teus olhos fixos nos meus
nos teus
nos
nus
de quem?
quando eu já não sabia mais onde começava
[e se eu usasse batom, te mancharia]
e tudo é só um borrão
ou uma horta, ou um jardim
- que reflete a minha
entre os meus dedos
esmagando as nossas palmas uma contra a outra
pra não sobrar ar entre os vãos
que encaixam as minhas mãos e pernas
nas tuas
me mostra essa lista de desgostos
esse mesmo peito fechado pra eu untar
de mim mesma até desemperrar
deixa a poesia ser
de novo
esse pé-de-cabra que sirva pra alma
esse pão nosso de cada dia
nesse teu ato de profanar cadernos em branco
desembesta esses demônios, que eles brigam com os meus
contrários, gritantes e exaltados
e os teus que herdaram essa tua raiva quieta
- não se encarcera nas grades deles
e deixa o inferno se queimar sozinho
não disfarça esse rosto envergonhado
e lembra dos teus olhos fixos nos meus
nos teus
nos
nus
de quem?
quando eu já não sabia mais onde começava
[e se eu usasse batom, te mancharia]
e tudo é só um borrão
ou uma horta, ou um jardim
Monday, 3 February 2014
Agrura
sangria desatada
das tripas do meu coração
e essa sensação de enjôo batendo em ondas
de uma maré pouco líquida contra as paredes do peito
angústia é esse apartamento pequeno
grande demais pra eu me perder
e esse cheiro de mim mesma esparramada pela cena do crime
antes fosse sangue e pó doendo nos meus hematomas
daquelas mesmas mordidas
daquelas coisas nenhumas
e tantas
antes fosse mais fácil se esconder atrás das pálpebras.
das tripas do meu coração
e essa sensação de enjôo batendo em ondas
de uma maré pouco líquida contra as paredes do peito
angústia é esse apartamento pequeno
grande demais pra eu me perder
e esse cheiro de mim mesma esparramada pela cena do crime
antes fosse sangue e pó doendo nos meus hematomas
daquelas mesmas mordidas
daquelas coisas nenhumas
e tantas
antes fosse mais fácil se esconder atrás das pálpebras.
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