Nem sequer escorrego mais pelas beiradas, porque falta fôlego pra chegar. Estou longe da borda e não deslizo. Solidifiquei-me ali dentro de um congelador e a minha massa comprimiu-se toda num cubinho que não é de gelo. Ando sem inventar nem mesmo aqueles passos em falso que eu dava em minhas tentativas de caminhar pelo meio fio de uma das asas da minha Cidade-que-não-voa.
Hoje fiz questão de roubar as palavras de Manoel de Barros e voei fora da asa. Voar assim, bem longe mesmo e acabei n’um pedaço do litoral. Os meus olhos já não tão atentos como outrora, fugiram pela linha do horizonte para buscar o comecinho do Sol que se levantava do mar como um menino peralta que espia o outro lado do muro. E a brisa me trouxe de volta os olhos antes que o rapazinho dourado me ocupasse demais a vista e eu já não o encontrasse mais. Lembrei-me fechá-los bem para fotografar direito o que não conseguia reter com a visão. Veio-me correndo o barulho das folhas de coqueiros bastardos – daqueles que nascem tortos - que eu desde muito pequena confundia com o mesmo barulho de chuva. E o gosto de sal que o vento carrega depois de ajudar a formar as ondas.
Enterrei os pés na areia e fui toda junto. Senti frio o de mim mesma que soprava forte pelas veias do meu não-sorriso e ainda assim, ri. Engraçada a mania que o mar tem de forçar a gente a se confessar diante dele. E força de um jeito doce, de forma a fazer com que a gente ache que que a reflexão é toda nossa. Mas de mim já não resta muito, então vamos, deixa Netuno engolir o resto. Aliás, Netuno, enche cá o copo de água salgada mesmo, pra ver se eu rendo mais nessa minha tempestade contida. Contida sim, nesse copo meio cheio. Meio. E eu que sempre reclamei de metades agora estou só cinqüenta centavos e não me basto nem para bancar o café da manhã.
Flutuei o resto do dia, sem que derretessem de mim os buracos. Agora quem saía toda faceira era a Lua. A mesma lua que a minha avó costumava dizer nas histórias-de-cadeira-de-balanço nos meus idos aninhos de criança. Quiçá ela estivesse um pouco mais velha e para mim parecia menor – e eu já não cabia mais na cadeira da vovó. A Lua, já alta, se distraía ao brincar de pique-esconde entre as nuvens como se conseguisse manter-se oculta. Pingava sobre o mar em um tapete de prata e eu é quem tinha vontade de escorrer. Escorri enfim, pra dentro de um poeminha que a lua refletida na maré alta engoliu. Só o papel, sem romantismo de garrafas e rolhas e laços. Deixei ir as palavras para pular corda com outras frases que eu haveria de compor. Talvez eu consiga desentupir de mim o ralo pra voltar a correr em rio descongelado. E que não seja pela metade.
Monday, 25 July 2011
Monday, 18 July 2011
Às oito letras que eu guardei num baú.
Não era uma vez, não. Eu nunca achei essa expressão bonita. Maldito o que inventou esse jeito de começar narrações – embora eu adore escutar a minha avó me contando a história da Lua e do Sol começando assim, com o “Eeeera” bem enfático. Não era uma vez, era uma alma. Era não. É. É por longos quase dezenove anos. Uma alma que é dentro de um corpo que carrega um nome – que muitas vezes pesa mais que a alma, o corpo e as roupas e acessórios juntos. Vocativo forte até, o dele. Significa protetor, inteligente, ousado e até alto – dependendo do livro de nomes pra bebê que você pesquisar. Começa com F, letra que é uma das que eu mais gosto de escrever (vá por mim, fica até bonita com a minha letra de menininha) e vai indo pelas outras letras combinadas até formar o tal Fernando.
É possível que se “Fernando” fosse uma palavra n’um dicionário, – não o de nomes pra bebê, por favor – deveria designar uma pessoa com um excelente gosto musical e uma capacidade absurda de rir da desgraça alheia, além de também adjetivar indivíduos com forte tendência à hipocondria e medo de personagens infantis – mas se “personagens infantis” disser respeito a palhaços, acho que seria mais fácil usar “Anna” e se fosse medo de galinhas, “Isadora”.
O caso é que Fernando ainda não é adjetivo ou substantivo. É, no mais completo clichê, sujeito – às vezes predicado, porque ele é quem costuma desenrolar as frases empacadas de mim – d’um universo feito volta e meia em textos que não fui eu quem escrevi, mas que de vez em quando eu ponho umas vírgulas no meio dos enunciados. O rapaz é dessas figuras que destoam: parece que o retiraram – junto comigo – do meio de uma década ida e largaram cá (ainda bem!). Fernando é bem dessas figuras que destoam.
Sempre achei esse um nome forte, mas nem me passava pela cabeça que essa força toda ia servir pra me sustentar o canto dos olhos pr’eu não cair. E que esforço que um dia foi me tirar um sorriso. O bonito é que ele fazia os dele de corda pra me puxar de dentro do meu quarto escuro. E não é que agora eu estou do lado de fora?
Vou-me terminando por aqui porque eu falo, falo e refalo e consigo formar no máximo uma foto três por quatro de todo o emaranhado de fotografias mentais que tenho arquivadas cá na minha caixinha-pulsante-de-sentimentos ao som de Beatles.
É possível que se “Fernando” fosse uma palavra n’um dicionário, – não o de nomes pra bebê, por favor – deveria designar uma pessoa com um excelente gosto musical e uma capacidade absurda de rir da desgraça alheia, além de também adjetivar indivíduos com forte tendência à hipocondria e medo de personagens infantis – mas se “personagens infantis” disser respeito a palhaços, acho que seria mais fácil usar “Anna” e se fosse medo de galinhas, “Isadora”.
O caso é que Fernando ainda não é adjetivo ou substantivo. É, no mais completo clichê, sujeito – às vezes predicado, porque ele é quem costuma desenrolar as frases empacadas de mim – d’um universo feito volta e meia em textos que não fui eu quem escrevi, mas que de vez em quando eu ponho umas vírgulas no meio dos enunciados. O rapaz é dessas figuras que destoam: parece que o retiraram – junto comigo – do meio de uma década ida e largaram cá (ainda bem!). Fernando é bem dessas figuras que destoam.
Sempre achei esse um nome forte, mas nem me passava pela cabeça que essa força toda ia servir pra me sustentar o canto dos olhos pr’eu não cair. E que esforço que um dia foi me tirar um sorriso. O bonito é que ele fazia os dele de corda pra me puxar de dentro do meu quarto escuro. E não é que agora eu estou do lado de fora?
Vou-me terminando por aqui porque eu falo, falo e refalo e consigo formar no máximo uma foto três por quatro de todo o emaranhado de fotografias mentais que tenho arquivadas cá na minha caixinha-pulsante-de-sentimentos ao som de Beatles.
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